VÁRZEA

cativo

dezembro

a céu aberto

chegada

jogo

sem título I

sem título II

greve

impasse

again

sol

carta magna
sobre

XVIIII
Hoje, ao cobrir-me com o lençol, cobriu-me também a certeza de que estava grávida; de que o havia irreversivelmente evocado do momento em que nos amamos e que tudo ao nosso redor fecundara. Soube que uma parte tua, designada a unir-se à mim, aos astros e a todas as outras coisas um pouco mais adiante, havia decidido por alguma razão antecipar-se, acoplando-se ao meu útero ao invés de desaguar no pântano em que nos encontrávamos, de cuja superfície rebentavam em voo libélulas e outros insetos que preferem o ar.

Decidi que se chamaria Sol a criança, porque é para onde vamos,
eu, tu e os demais; e para que pudesse Sol transitar entre humanos e não-humanas enquanto isso. Me detive em sua imagem - suas orelhas macias como as tuas, seus cabelos crespos como os meus, seus olhos de uma cor impossível, entre a dos meus e a dos teus cachorros. Em seguida fixei-me no meu seio, tal qual se fixaria Sol, tal qual te fixas tu, compulsivo, atrás do calor que de mim irradia e o qual eu desconhecia até a tua chegada. Vi-me sozinha, ou nem tão sozinha, pois estavam também meus seios, Sol e o sol. Senti-me arrebatada, aterrada, cabal; como quem se sente mãe.

E com um movimento súbito do seio, que depois percebi tratar-se de mais uma das setenta pulsações que o acometem por minuto, a certeza dissipou-se. Entendi que Sol não estava, que jamais estaria. Que nossas gametas não se fundiriam em zigoto antes de que o fizessem todas as outras células de nossos corpos às do sal e às do pó. Que para nós, Sol não será tanto uma continuidade outreforme dessa vida quanto nosso destino final, singular e primeiro, onde e quando enfim cozerão estes genes em matéria desconhecida, da qual quiçá se insurgirão, macios e crespos, novos e efêmeros sóis.
sol

costa brava

anapoiesis

cadavre exquis

elétrica

casa

corpo-

serra de sintra

saudação

empírica

la rabbia

às voltas

autoimune

clareira

minuta

a sound

fantasia sem número

um gesto

soneto livre